Pesquisadora do Pós-Cultura participa de mobilização para que a Universidade de Harvard devolva crânio de um Malê para a Bahia

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Atualmente em estágio de pós-doutoramento no Pós-Cultura, junto ao grupo Cultura, Política, Lógicas Identitárias e Produtivas, a pesquisadora Hannah Bellini integra uma rede formada por professores da UFBA que, junto à comunidade muçulmana baiana, busca um gesto de reparação da Universidade de Harvard. Em resposta a acusações históricas de racismo e colonialismo, a Universidade estadunidense instaurou uma comissão para investigar a coleção de restos humanos de indígenas e africanos ainda custodiados em suas dependências e estudar a possibilidade de devolvê-los para seus descendentes ou suas comunidades de origem. De acordo com relatório publicado pela Universidade em setembro de 2022, entre os restos mortais sob sua guarda está o crânio de um homem que alegadamente participou da famosa Revolta dos Malês, protagonizada por muçulmanos escravizados na cidade de Salvador em janeiro de 1835. Ainda segundo o relatório, o crânio seria de um homem nigeriano, da nação iorubá.
 
Assim foi iniciada uma campanha para que o crânio seja repatriado e possa receber um ritual fúnebre islâmico adequado. Segundo a entrevista de Hannah Bellini à Folha de São Paulo no dia 19 de novembro, “não adianta trazer o crânio para ser exposto em um museu'. Seria trair o propósito da campanha. Queremos oferecer um ritual fúnebre, que foi negado ao corpo naquela época”. Uma requisição formal já foi encaminhada e aguarda a resposta de Harvard. A campanha ganhou notoriedade, sendo noticiada pelos principais veículos de comunicação nacionais, angariando visibilidade também na cobertura internacional. A movimentação coloca os direitos culturais e religiosos dos povos historicamente subalternizados no centro do debate acadêmico, e chama a atenção para a presença do racismo e do colonialismo no cerne da produção do conhecimento. A repatriação dessa relíquia marca um processo de reparação histórica especialmente significativo, dada o papel dos africanos islamizados na resistência contra a escravidão e o projeto de repressão da matriz religiosa que sucedeu a Revolta dos Malês.

Saiba mais sobre o caso:

Muçulmanos querem que Harvard devolva crânio de personagem da Revolta dos Malês, matéria da Folha de São Paulo